Entenda porque a dengue pode ser grave!

  • 7 Fevereiro 2024

A dengue é causada por um vírus que é transmitido pelo mosquito fêmea do Aedes Aegypti. Este mosquito tem hábito diurno e geralmente fica em áreas abertas como parques, praças, e no quintal de casa. Existem 4 sorotipos do vírus da dengue, ou seja, uma pessoa pode ter dengue 4 vezes!

Os sintomas da dengue são a presença de febre e 2 ou mais sintomas associados como: dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor no corpo muito forte, dor articular leve, sangramento de gengiva, sangramento nasal e manchas vermelhas na pele.

A febre pode ter duração de 2 a 7 dias e na presença de piora dos sintomas após o desaparecimento da febre, como vômitos persistentes, dor abdominal intensa, desmaio, queda de pressão arterial ou letargia, a dengue pode estar evoluindo para sua forma grave! Ocorre que o vírus da dengue é um vírus que causa desidratação intensa! Ele consome os líquidos do nosso corpo que irrigam nossas células e que circulam dentro dos nossos vasos sanguíneos. Por isso é importantíssimo ingerir muita água, água de côco, frutas e uma sopa de legumes com bastante caldinho também ajuda.

A dengue grave é quando todos esses líquidos que eu citei vão para o espaço intersticial – que é um espaço virtual no nosso corpo que fica do lado de fora dos vasos sanguíneos. Isso acontece porque o vírus da dengue causa um aumento da permeabilidade vascular, ou seja, nossos vasos sanguíneos que deveriam estar fechados, estão com vários buracos, deixando escapar nosso líquido corporal para esse tal espaço intersticial. Quando falta líquidos dentro dos vasos sanguíneos, não chega líquido no coração e nossa pressão arterial cai. A essa situação nós chamamos de choque, e é isso que mata na dengue grave. Por isso a hidratação é tão importante no início dos sintomas, para podermos deixar os nossos vasos sanguíneos "cheios" e manter a distribuição dos líquidos por todo nosso corpo.

Como fazemos o diagnóstico da Dengue:

Na suspeita clínica da dengue, ou seja, na presença desses sintomas associado a um exame físico sugestivo, o médico solicitará um hemograma, o qual mostrará características típicas da dengue: hematócrito alto (mostrando a desidratação), contagem de leucócitos baixa (mostrando a infecção viral) e queda de plaquetas (também mostrando o efeito do vírus sobre o processo de coagulação do sangue). Existem também 2 exames que ajudam na confirmação do diagnóstico da dengue, que são o Antígeno NS1, que é um pedacinho do vírus da dengue, o qual é detectado do 1º ao 3º dia de sintoma. No 4º e 5º dia de sintoma nem o antígeno e nem os anticorpos (IgM e IgG) para dengue estão presentes na corrente sanguínea, podendo falsear o exame caso ele seja coletado em momento errado. Após o 6º dia de sintomas é que o nosso corpo começa a produzir os anticorpos - isso vale para qualquer doença -, e aí neste momento podemos coletar a sorologia específica para dengue para avaliar a presença destes anticorpos, confirmando a infecção.

Um teste clínico que podemos realizar na suspeita de dengue é a prova do laço. Trata-se de um procedimento que fazemos com base na Pressão Arterial Média (PAM) do paciente, com o manguito do medidor de pressão arterial vamos insuflá-lo até esse valor obtido da PAM e deixar por 5 minutos. Nas crianças desenhamos em seu antebraço um quadrado medindo 2,5 x 2,5 cm e contamos quantas petéquias aparecem lá dentro. Se contarmos mais do que 10 petéquias, consideramos a Prova do Laço positiva. E o que isso significa? Significa que existe um aumento da permeabilidade vascular, com chance de sangramentos maiores.

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Quadro ilustrativo da evolução cíinica e laboratorial da infecção pelo vírus da dengue. Fonte: World Health Organization – WHO (2009), com adaptações.

Vejam esse quadro: Ele mostra a febre bem alta (de até 40ºC) no início dos sintomas e isso acontece no momento em que há a viremia. Chamamos de viremia o momento em que o vírus está se replicando e está em maior quantidade em nosso corpo. Por isso, neste momento conseguimos captar o NS1, que é um pedacinho do vírus que está circulando aos montes em nosso organismo. No momento da defervescência da febre, que está representado pela faixa cor de rosa, temos a possibilidade dos sinais de gravidade que configuram a dengue grave que expliquei nos parágrafos anteriores.

Reparem que dentro da faixa cor de rosa, temos a queda da linha que representa a viremia (ou seja, diminuição da circulação viral) e ainda não começaram a subir as linhas que representam os anticorpos das classes IgM e IgG. Por isso, não faz sentido coletar nem o NS1 e nem a Sorologia para dengue neste período (após o 3º dia de sintoma e antes do 6º dia de sintoma).

Não existe nenhum tratamento específico para a dengue. Usamos analgésicos para controle da dor, como dipirona (Novalgina, Anador, Lisador) e paracetamol (Tylenol, Tylemax e Pratium). Devido àquela permeabilidade vascular e a queda das plaquetas que eu citei acima, não podemos usar aintinflamatórios não esteroidais, os AINEs, pois eles atrapalham esse processo de coagulação, podendo agravar os sintomas.

Quais são os AINEs que não podemos usar: Diclofenaco (Cataflan e Voltaren), AAS, aspirina, Ibuprofeno (Alivium), Cetoprofeno (Profenid), Piroxican (Feldene), Meloxican (Movatec), Nimesulida.

Portanto, iniciou com febre e dor, trate esses sintomas com dipirona ou Paracetamol puras, ou seja, sem associações com outras medicações (Benegripe, Cimegripe, Coristina...) para não correr o risco de haver um AINE em sua composição.

Importante: As mães que estão com dengue podem amamentar normalmente o bebê.

Uma forma de proteção contra a dengue é com a vacinação. No Brasil temos 2 vacinas disponíveis: a Dengvaxia e a QDenga. A diferença entre elas é a indicação e a idade permitida para vacinação. Como a dengue existe no Brasil inteiro e é mais prevalente nas estações de primavera e verão, é uma vacina que vale muito a pena ter em sua caderneta!

Veja mais sobre as vacinas da dengue aqui.

Outra forma de prevenir a infecção da Dengue é cuidando dos reservatórios do mosquito. Eles gostam de água parada, e depositam seus ovos na superfície dos recipientes e esses ovos são resistentes à falta de água.

Vou explicar melhor: você viu a água parada em algum recipiente e jogou fora a água deste recipiente ou a água evaporou devido ao calor, mas o mosquito já havia depositado seu ovo neste recipiente. Quando este recipiente estiver cheio novamente chegando ao nível de água onde foram depositados os ovos, estes irão eclodir e liberar as larvas do mosquito. Então o ideal é que recipientes que ficam expostos e de uso diário como bebedouros de passarinhos, cães e gatos sejam lavados com uma bucha e sabão pelo menos 3x/semana. Os demais reservatórios podem ser cobertos com tampa ou eliminados (como lixo, tampa de garrafas, pneus, entre outros que possam acumular água).

Crianças maiores de 6 meses já podem usar repelentes na pele.

Veja como usar os repelentes e o que fazer em menores de 6 meses aqui.

Referências:

1) Dengue virusinfection: Pathogenesis. Disponível em:

https://www.uptodate.com/contents/dengue-virus-infection-pathogenesis?search=dengue&source=search_result&selectedTitle=2~107&usage_type=default&display_rank=2

2) Calendários de vacinação. Sociedade Brasileira de Imunizações. Disponível em: https://sbim.org.br/


Este artigo foi escrito para fins informativos e não substitui a consulta médica. Consulte sempre um pediatra qualificado para ter o diagnóstico e tratamento individualizado.


Sobre a autora

Doutora Alyne Brisotti

Pediatra engajada em aleitamento materno, focada no cuidado com o neurodesenvolvimento infantil e defensora de uma infância natural e saudável