Bullying: o que é e suas variações.

  • 26 de Janeiro 2025

Com o avanço do acesso às tecnologias, segundo a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) estima-se que 90% das crianças brasileiras tenham acesso a um smartphone, tablet e/ou computadores que estão conectados à internet. Dessa forma, é fundamental o rigoroso controle dos pais em relação ao tempo de tela e ao conteúdo que a criança está a acessando.

No meu instagram @draalynebrisotti, fiz uma publicação bem sucinta sobre o tempo de tela por idade e como avaliar o uso. Mas brevemente, para os menores de 2 anos o uso é contraindicado, para as crianças de 2-5 anos o uso é limitado a 1h por dia sob supervisão de um adulto sempre, de 6-10 anos limitado a 2h por dia, também sob supervisão e para os maiores de 11 anos 3h por dia. Isso é a recomendação da SBP. Na pós-graduação que faço atualmente sobre Neurodesenvolvimento e seus transtornos, os neurologistas pediátricos recomendam o uso zero de telas até os 5 anos de idade, recomendação que eu também concordo, visto que não há razão de dar um celular ou tablet para uma criança desta idade e porque o impacto no desenvolvimento neurológico bem como estrutural do cérebro fica comprometido.

Mas hoje quero conversar com vocês sobre bullying e seus subtipos que circulam na Internet. Bullying vem da palavra inglesa bully, que significa tirano, valentão, brigão e é usado para expressar atos de violência física, verbal ou moral praticado nas escolas. A violência representa uma das piores experiências na infância pois geram estresse tóxico e interferem no curso normal do desenvolvimento das crianças e as deixando física, psíquica e socialmente vulneráveis, o que leva a um risco maior em autoagressão e até resultar na própria morte da criança ou do adolescente.

Os alvos do bullying são os que sofrem o ato violento devido fraqueza ou por sua aparência, por timidez, por ter poucos amigos, por sua religião, por seu gênero, etnia ou opção sexual.

Os autores do bullying são aqueles que praticam a violência, e geralmente são pessoas agressivas, apresentam temperamento explosivo e acreditam que a agressão “é o melhor caminho para a popularidade” e por isso eles buscam plateia. São crianças/adolescentes que vivem em um ambiente de pouca vigilância dos pais, lar pouco afetivo, de comportamento violento para a solução dos problemas e é comum a evasão escolar, além de comportamento de risco e geralmente se tornam violentos na idade adulta.

Meninos são mais agressivos fisicamente, costumam bater, ferir, quebrar pertences, cometer humilhações, homofobia e cyberbullying.

As meninas promovem mais a exclusão social dos seus pares, rumores, fofocas, agressão verbal ou ofensas.

Estima-se que 5-35% das crianças sofrem e/ou praticam bullying e os lugares mais comuns de ocorrência são a sala de aula e durante o recreio, mas podem também ocorrer no ônibus escolar e no entorno da escola.

Estudos recentes mostram que os que sofrem bullying têm probabilidade três vezes maior a ter acesso a armas e 4,2% teve acesso sem o conhecimento dos responsáveis.

E aí temos o Cyberbullying, que é o bullying que ocorre usando tecnologia eletrônica com toda sua diversidade nas redes sociais e pode atingir a vítima em qualquer lugar do mundo, inclusive causando grande dano mental.

Como o cyberbullying é realizado por meio de tecnologias digitais, como mídias sociais, plataformas de mensagens (Whatsapp), jogos dos celulares e tablets, ele tem o intuito de assustar, envergonhar, espalhar mentiras, compartilhar fotos constrangedoras, enviar ameaças que humilham, ou até uma outra pessoa pode se passar pelo seu filho e enviar mensagens maldosas para outras pessoas usando o nome dele.

Quando a criança ou o adolescente sofre esse tipo de violência alguns sinais de alerta devem ser observados, como enurese noturna (fazer xixi na cama), dor epigástrica (“dor de estômago”), pesadelos frequentes, alteração de sono, vômitos, desmaio, dor de cabeça, dores em extremidades, queixas visuais, síndrome do intestino irritável, anorexia, bulimia, isolamento social, silêncio, irritabilidade, agressividade, queda no desempenho escolar, resistência em ir à escola, pedir para ser levado à escola, machucados inexplicáveis, pedido de dinheiro à família repetidamente, crises de ansiedade, depressão e tentativas de suicídio.

Agora vamos falar sobre o Grooming, que na minha opinião é a pior de todas!

O grooming é uma prática realizada na internet por um adulto que se passa por outra criança com a finalidade de se aproximar para ganhar sua confiança e criar uma conexão emocional para conseguir se aproveitar sexualmente dela.

Esses agressores são pessoas perversas e pedófilas, e através do excesso de exposição de fotos postadas pelos próprios pais, pela criança/adolescente é que acrescem dados importantes de suas vidas emocionais no Instagram, WhatsApp, TikTok, Facebook, dentre outros.

E são através dessas informações que o agressor usa para estudar suas vítimas e faz uma aproximação por meio de um perfil falso se apresentando como ter a mesma idade da vítima ou idade próxima.

A partir daí, através da empatia ele passa a ter acesso aos dados e informações da família para realização de chantagem. Neste momento, com dados e informações de seus familiares, o agressor começa com as ameaças de que se a criança/adolescente não tirar a roupa em frente a tela/webcam naquele momento, algo de ruim irá acontecer com uma pessoa importante para a vítima.

Por exemplo, eles dizem que sabem onde os pais trabalham e seus horários, então se naquele momento a vítima não tirar a roupa em frente à câmera, o agressor irá fazer alguma coisa de ruim com um deles. Infelizmente a maioria das crianças/adolescentes, devido sua vulnerabilidade, imaturidade e medo, tiram a roupa mediante essas ameaças e aí passam a depender desses agressores.

Depois de conseguir essas fotos, as exigências da exposição sexual vão aumentando e passa a induzir na vítima uma situação de culpa: “e se meus pais e meus amigos tiveram acesso a esse material, o que podeacontecer? ”

A duração dessa violência sexual pode ser de muito tempo devido a criança/adolescente não conseguir contar a ninguém o que está acontecendo. As vítimas passam a ter alteração de comportamento dos mais variados, como queda no rendimento escolar, isolamento social, depressão e auto agressão.

Quando os pais descobrem o grooming é muito importante que a criança/adolescente seja acolhido! Porém, infelizmente, muitas vezes isso não acontece, pois são reconhecido como culpado e não como vítima. Essa situação é importante de ser acompanhada e tratada por especialistas tanto para as crianças e adolescentes acometidos quanto para os pais que precisam de suporte para lidar com essa situação.

E uma última nomenclatura que gostaria de compartilhar com vocês é o Phishing, que se trata de um ataque que tenta roubar seu dinheiro ou a sua identidade fazendo com que você revele informações pessoais, tais como números de cartão de crédito, informações bancárias ou senhas em sites que fingem ser legítimos. Aqui a dificuldade é de a criança/adolescente saber identificar que um site é falso caso ela esteja comprando algo, por exemplo.

Diante disso os pais devem estar atentos à exposição de fotos e das informações do estado emocional dos seus filhos na internet a fim de prevenirmos essa situação. A procura de ajuda especializada para avaliação do quadro é fundamental, além de reforçar sempre a importância de não conversar com estranhos. Em caso de a violência já ter ocorrido, acolha seu filho imediatamente e procure ajuda necessária.

Aqui no Brasil, em algumas cidades já existem delegacias para este tipo de denúncia. Então, caso seu filho sinalize qualquer sinal de sofrimento gerado de um ataque constante por vias digitais, você pode tirar print da tela na qual consta o insulto e juntar material para fazer a denúncia. Procurar um advogado para lhe auxiliar em relação às leis de proteção aos ataques cibernéticos também pode ser útil. Dos recursos, temos o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14) que regulariza as formas de uso da internet e também a Lei 13.185/15 que instituiu o Programa de Combate a Intimidação Sistemática (Bullying), além do Ministério Público e do Conselho tutelar sempre evitando a judicialização e, como o bullyinge o cyberbullying (incluindo o grooming e o phishing) oferecem riscos à saúde física e mental, os Programas de Saúde Escolar devem incluir no projeto pedagógico comissões mistas de educação, saúde e justiça, com atividades de prevenção de violência, incluindo toda a comunidade escolar junto com as famílias de forma que possam contribuir para um ambiente seguro e de respeito, propiciando o livre debate, reflexão e pensamento crítico que possam possibilitar relações construtivas e afastar formas geradoras de violência com condições de diálogo.

Então minha sugestão, primeiramente em relação a celulares, idealmente só os adolescentes maiores de 12 anos devem ter um somente para si, visto que eles têm maior discernimento para julgar tudo isso que estou falando a vocês e também para não haver abuso do uso, o que traz inúmeros malefícios e, convenhamos, poucos benefícios.

Caso você queira dar um celular para uso de contato telefônico para um filho menor, dê o mais simples possível, para que jogos e mídias sociais não possam ser baixados.

Dito isso, a prevenção é fundamental e essencial, pois os danos psicológicos desses tipos de violência podem ser irreversíveis!

Converse com seu filho sobre tudo isso que expliquei a vocês criando um ambiente amistoso e livre para que ele saiba identificar e trazer para vocês quando algo estiver errado. Bem como explicar a ele o que não fazer, para que ele não seja o agressor também! Ensine a seu filho que ele não deve publicar nome da escola, endereços, números de telefone, informações exclusivas do ambiente familiar,fotos indesejadase nem falar com estranhos na internet. Em relação às mídias sociais, veja o tipo de perfil de seu filho, para que este seja privado, de forma que só quem você ou ele (de forma responsável) autorize e tenha acesso ao conteúdo postado e também sobre quem pode enviar mensagens ao seu filho. Eduque seu filho para que ele saiba identificar quando é tempo de desfazer uma amizade nas redes e até mesmo bloquear o usuário. Estar trancado dentro do quarto pode ser mais perigoso do que estar brincando de bicicleta na rua, passeando no parque com os amigos ou indo ao cinema. Pense nisso!

Fonte:

Sociedade Brasileira de Pediatria

Texto por Dra Alyne Brisotti


Sobre a autora

Doutora Alyne Brisotti

Pediatra engajada em aleitamento materno, focada no cuidado com o neurodesenvolvimento infantil e defensora de uma infância natural e saudável